Maio é, por excelência, o mês da sua floração e apesar de algumas queixas pelo liquido pegajoso que soltam que por vezes nos incomoda ao caminhar nos passeios o seu bonito tom lilás embeleza de facto a cidade, não concordam?
De entre os artistas que nelas se inspiraram destacamos Eugénio de Andrade e Matilde Rosa Araújo com dois poemas que hoje vos deixamos:
"Em Lisboa com Cesário Verde"
Nesta cidade, onde agora me sinto
mais estrangeiro do que um gato persa;
nesta Lisboa, onde mansos e lisos
os dias passam a ver as gaivotas,
e a cor dos jacarandás floridos
se mistura à do Tejo, em flor também;
só o Cesário vem ao meu encontro,
me faz companhia, quando de rua
em rua procuro um rumor distante
de passos ou aves, nem eu já sei bem.
Só ele ajusta a luz feliz dos seus
versos aos olhos ardidos que são
os meus agora; só ele traz a sombra
de um verão muito antigo, com corvetas
lentas ainda no rio, e a música,
sumo do sol a escorrer da boca,
ó minha infância, meu jardim fechado,
ó meu poeta, talvez fosse contigo
que aprendi a pesar sílaba a sílaba
cada palavra, essas que tu levaste
quase sempre, como poucos mais,
à suprema perfeição da língua.
Eugénio de Andrade
in Homenagens e outros Epitáfios, 1974
O jacarandá florido
Brando cantar trazia
Branda a viola da noite
Branda a flauta do dia
O Jacarandá florido
Brando cantar trazia
O vinho doce da noite
A água clara do dia
Quem o olhava bebia
Quem o olhava escutava
O jacarandá florido
Que o silêncio cantava
Matilde Rosa Araújo
in As Fadas Verdes, 1994
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