sexta-feira, 22 de maio de 2020

Jacarandás de Lisboa


Chegados a Lisboa em inícios do século XIX os Jacarandás depressa se tornaram quase um símbolo da primavera na nossa capital. Estas árvores foram trazidas do Brasil por responsáveis do Jardim Botânico. Inicialmente não havia certezas quanto à sua adaptação mas depressa se verificou que o clima temperado de Lisboa a zona sul de Portugal é perfeito para a Jacaranda mimosifolia (nome científico da espécie).

Maio é, por excelência, o mês  da sua floração e apesar de algumas queixas pelo liquido pegajoso que soltam que por vezes nos incomoda ao caminhar nos passeios o seu bonito tom lilás embeleza de facto a cidade, não concordam?

De entre os artistas que nelas se inspiraram destacamos Eugénio de Andrade e Matilde Rosa Araújo com dois poemas que hoje vos deixamos:



"Em Lisboa com Cesário Verde"


Nesta cidade, onde agora me sinto 
mais estrangeiro do que um gato persa; 
nesta Lisboa, onde mansos e lisos 
os dias passam a ver as gaivotas, 
e a cor dos jacarandás floridos 
se mistura à do Tejo, em flor também; 
só o Cesário vem ao meu encontro, 
me faz companhia, quando de rua 
em rua procuro um rumor distante 
de passos ou aves, nem eu já sei bem. 
Só ele ajusta a luz feliz dos seus 
versos aos olhos ardidos que são 
os meus agora; só ele traz a sombra 
de um verão muito antigo, com corvetas 
lentas ainda no rio, e a música, 
sumo do sol a escorrer da boca, 
ó minha infância, meu jardim fechado, 
ó meu poeta, talvez fosse contigo 
que aprendi a pesar sílaba a sílaba 
cada palavra, essas que tu levaste 
quase sempre, como poucos mais, 
à suprema perfeição da língua. 

Eugénio de Andrade

in Homenagens e outros Epitáfios, 1974 





O jacarandá florido
Brando cantar trazia
Branda a viola da noite
Branda a flauta do dia

O Jacarandá florido
Brando cantar trazia
O vinho doce da noite
A água clara do dia

Quem o olhava bebia
Quem o olhava escutava
O jacarandá florido
Que o silêncio cantava

 Matilde Rosa Araújo 
 in As Fadas Verdes, 1994



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